segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

O Silêncio é bom

As Raízes do Silêncio


1. Tempo de Silêncio

Hoje, é o dia do silêncio,
dia do vazio,
dia do nada,
dia de nadar nadando no nada nadante.
É preciso nadar,
esvaziar-se,
silenciar,
entregar-se,
abandonar-se no silêncio solitário da solidão.
Então, neste momento, encontrei Deus, o Senhor.
Sozinho,
na solidão,
no silêncio,
no vazio,
no deserto,
no nada, felizmente, fiz meu encontro com Deus, o Senhor.
Escuto a voz do Senhor Deus: é de paz que Ele fala
é do bem que Ele surge,
é na luz que Ele vive,
é com o amor que Ele trabalha,
é pela vida que Ele zela.
No silêncio, o vazio e o nada fizeram-se deserto e solidão:
- Deus apareceu,
o Senhor aconteceu.
Eis que agora meu vazio se encheu.
Meu ser tornou-se plenitude,
ganhei altitude nos céus de Deus
Sim, é tempo de silêncio.
Tempo de Deus..

2. O Discurso do Silêncio

Escuto a voz de Alguém dentro e fora de mim.
Alguém fala,
vive,
existe e insiste,
caminha e se movimenta aquém e além de mim, no interior de mim.
Alguém é linguagem de vida,
caminhada existente,
movimento insistente.
Alguém falante,
vivente,
energético,
caminhante,
insistente,
existente.
O Silêncio fala: eis o pensamento.
O Silêncio fala de Alguém: pensamento do pensamento.
Pensando em Alguém, o silêncio se faz vida, energia, movimento, eternidade.
Refletindo sobre Alguém, no silêncio em mim, de mim e para mim, penso no eterno, na eternidade da vida, no movimento eterno do ser vivente que agora está em mim.
Ele, o fundamento da vida,
o princípio do amor,
a raiz da paz,
a origem da luz,
a fonte do bem.
Alguém justo, direito e verdadeiro.
Alguém livre e feliz, respeitoso e responsável, saudável e educado, bom, a bondade em pessoa, consciente e contente.
A voz do silêncio se faz ouvir.
É de paz que Ele fala.
É do bem que Ele vive.
É na luz que Ele está.
Ele, Deus e Senhor.

3. A Árvore do Silêncio

Na construção do silêncio, vários momentos são percorridos, tais como:
a) A Raiz do Silêncio é a Graça de Deus, o Senhor.
b) O Tronco do Silêncio é o Amor.
c) O Caule do Silêncio é a Vida.
d) As Folhas do Silêncio são a Paz e a Ordem.
e) As Flores do Silêncio são a Reflexão e a Paciência.
f) Os Frutos do Silêncio são o Bem e o Discernimento.

4. No meio do silêncio,
um grito

Hoje, acordei disposto a me calar, a não falar com ninguém, a não soltar a voz em defesa de alguém ou em seu benefício.
Quero silenciar.
Ouvir o que o silêncio tem a me dizer.
Quem sabe os passarinhos cantem para me ensinar que a música é amiga da vida e da arte.
Ou talvez as violetas me manifestem o seu odor de viúvas negras querendo me iluminar com o seu odor de cemitérios ambulantes.
Ou pode ser que os bombons de chocolate que tenho aqui em casa me digam que a realidade precisa de energia capaz de fortalecer os fracos e levantar os deprimidos.
É possível ainda que o bife a rolé com batatas que hoje irei comer me ajude a entender que o silêncio é como os alimentos que gostam de ocupar os nossos espaços vazios na barriga para que não sintamos falta do nada que nos amedronta e das coisas ocas que nos afligem e fazem desesperar.
Ou também pode acontecer que o próprio silêncio igualmente se cale a fim de que as pérolas azuis da nossa consciência nos falem dos compromissos diários que temos e das responsabilidades que não podem estar ausentes do nosso cotidiano.
Ou será que a voz dos que se calam é mais forte que o barulho dos ventos, mais quente que o fogo do sol, mais brilhante que a luz da manhã, mais saudável que o suco de uva que ocupa as ausências do gelo da minha geladeira e perfuma a noite do frio e embeleza com vida as minhas interioridades ardentes que incendeiam como o fogão da cozinha ou as brasas calorosas do verão carioca.
Hoje, quero sentir o silêncio, e tentar descobrir o que ele aqui e agora tem a me dizer.
Irá ele ordenar as minhas idéias que se complicam e se confundem umas com as outras diante dos gritos das ruas e das fofocas dos vizinhos e dos trovões e tempestades que ocorrem nas adjacências dos supermercados aqui perto ?
Pode ocorrer o fato do silêncio gritar dentro das nossas cabeças enlouquecidas pela irrealidade da imaginação ou da irracionalidade dos nossos pensamentos que ainda não surgiram.
Dizem até que calar é mais barulhento que as palavras que saem da nossa boca.
Porque nesse conflito interno e nessa bagunça de símbolos e imagens interiores que se chocam alguém quem sabe decide se manifestar e gritar bem alto que nossas ausências estão pedindo paz, a calma da alma e a tranqüilidade do espírito.
Só sei que há muito tempo tenho escutado o grito do silêncio dentro de mim pedindo-me insistentemente uma chance para sobreviver ou uma oportunidade para expressar a sua voz delirante clamando por vez em nossas vidas de cada dia e de toda noite.
Espero que alguém, não só eu, deixe o silêncio gritar, os vazios do ego se manifestarem e os nadas da existência fazerem o barulho necessário para que todos acordem de seus sonhos metafísicos e abram-se de vez ao discurso dos que se calam para que Deus fale e a vida grite os segredos da realidade e vocifere os mistérios do ser, do pensar e do agir.
Sim, hoje quero escutar o silêncio.
Pode ser que ele descubra algum problema que ainda não percebi, ou me revele que as avenidas da vida estão cheias e cansadas das cargas pesadas dos que não têm tempo para si mesmos, ou talvez mesmo não puderam se encontrar, ou se apagaram da existência através dos pesos da consciência e das contradições diárias que a realidade sempre nos apresenta.
Talvez o silêncio me conte uma história de onde eu possa tirar uma lição de vida.
Ou narre para mim a minha jornada pela Terra até agora e torne a partir de então a minha caminhada dentro da sociedade tão elegante como as passarelas da moda de Paris, de Roma ou de Berlim, ou tão elevada como as montanhas que cercam o Rio de Janeiro, ou tão excelente como as jóias das princesas de Lisboa, ou tão preciosa como as pérolas vermelhas e azuis dos colares e brincos da Rainha da Inglaterra.
Pode ser.
Mas ainda prefiro as minhas ausências do ser, os vazios aquecidos do meu pensamento sempre fértil, fecundo e profundo, ou os nadas nadantes da minha consciência ocupada pelos barulhos das idéias que se criam em mim misturadas com as imagens do meu eu inquieto, instável e inseguro.
Só assim consigo escutar a voz do silêncio e seu grito de liberdade me pedindo uma chance de felicidade e uma oportunidade de saúde mental e bem-estar social, cultural e ambiental.
Decidi.
É deste modo mesmo que eu quero ficar.
Contemplando as minhas carências afetivas e vislumbrando as minhas ausências ocupadas pelo barulho do nada e pelos gritos do vazio.
Então silenciei.
E logo ouvi um grito.
Senti que era o grito de Deus.
Deus tentava sobreviver.
Aí sim acordei.
Acordei escutando o divino em mim.
E fiquei mais humano.
E me achei mais bonito.
E me tornei mais grande.
E virei um gigante.
Nesse silêncio gigante,
me encontrei com Deus.
E dormi.
E descansei em paz.

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